Um pouco tarde
O céu tem a mesma cor agora,
que tinha,
na última vez que não dormi,
pensando em você.
Por isso eu até evito
olhar pela janela,
e enfio a cabeça no fundo do poço,
que eu mesmo cavei,
na minha cama.
Pra morrer sozinho, talvez,
durante o sono,
e pra enterrar
os sonhos que juntei.
Lá no fundo, no fundo mesmo,
junto com os meus erros,
e as palavras que não quis dizer,
mas que devia.
Eu devia ter te dito
logo no primeiro dia,
que eu não era o cara,
pra esse tipo de história.
Você teria me deixado,
mas ainda assim,
melhor,
do que morrer afogado
no meio da madrugada,
na maré do engano.
Melhor, talvez,
do que sair agora,
por sinal, até um pouco tarde,
pra um arrependimento.
Mas não me maltrato
na espera.
Ainda há fogo em mim,
para um carnaval ou dois
na beira da calçada.
Quem sabe,
eu me encontre
na próxima ladeira,
e me perca logo depois,
num amor,
que não morra
logo após
a quarta feira.