ESTRELAS DO CÉU
Ao contrário de Quintana
minha morte não veio comigo
nem quando me cortaram o umbigo
e nem quando pela primeira vez
aqui pisei com meus pés descalços
a marcar o chão da areia
da parte de cima da ampulheta
que quando nasci me deram cheia
A vida é uma estrada calçada de dias
em que por ela passo com passos incertos
porque uma coisa é líquida e certa
ela não é uma linha contínua e reta
mas feita de curvas e acasos
às vezes cheia de fendas e de buracos
toda torta, sinuosa e acidentada
Sou como um poema andarilho
que vive a catar pequenos versos
e embora já esteja até carregado
de várias estrofes, canções e trovas
vou ser sempre o que sempre serei
inquieto, pendente e inacabado
E quando todas as folhas de papéis terminarem
não adianta que não vou parar
vou insistir mais adiante continuar
nem que escreva nas paredes do céu
rabiscos feitos de estrelas
iguais às que eu fazia quando era criança
começando riscando um V de cabeça pra baixo