ESTRELAS DO CÉU

Ao contrário de Quintana

minha morte não veio comigo

nem quando me cortaram o umbigo

e nem quando pela primeira vez

aqui pisei com meus pés descalços

a marcar o chão da areia

da parte de cima da ampulheta

que quando nasci me deram cheia

A vida é uma estrada calçada de dias

em que por ela passo com passos incertos

porque uma coisa é líquida e certa

ela não é uma linha contínua e reta

mas feita de curvas e acasos

às vezes cheia de fendas e de buracos

toda torta, sinuosa e acidentada

Sou como um poema andarilho

que vive a catar pequenos versos

e embora já esteja até carregado

de várias estrofes, canções e trovas

vou ser sempre o que sempre serei

inquieto, pendente e inacabado

E quando todas as folhas de papéis terminarem

não adianta que não vou parar

vou insistir mais adiante continuar

nem que escreva nas paredes do céu

rabiscos feitos de estrelas

iguais às que eu fazia quando era criança

começando riscando um V de cabeça pra baixo

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 07/08/2022
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