O CORPO AINDA POSSUI

Pão duro, boca mole.

Faca afiada, olhos cegos.

Vesgos vícios, sãs desejos.

O corpo ainda possui a pele que enruga

Que serve de abrigo à pulga.

Cabeça feita, ventre inacabado.

Pés descalços, tênis importado.

Carro blindado, carroça sem porta.

O corpo ainda possui o formato do aparato

Que se rompe depois de um ato.

Comida quente, fome congelada.

Banheiro com Box até o teto, bostas no chão.

Cabelos escovados, cérebros encharcados.

O corpo ainda possui vísceras e gestos

Que se desfaz em restos.

Bunda grande, cabeça pequena.

Alma doce, espírito amargo.

Reações alérgicas, loucuras lisérgicas.

O corpo ainda possui formas e feridas

As “cicatrizes” ingeridas.

A bebida corrosiva, o paladar voraz.

O grito cheio no escuro, a voz vazia no claro.

A santa de gesso, A fé de porcelana.

O corpo ainda possui os cultos e os pulsos

Que um dia tornam-se os “vultos”.

O dia amarelo, a noite negra.

A palidez da lua, os raios de sol.

Comida caseira, lavagem aos porcos.

O corpo ainda possui moldes e molduras

Que apodrece como frutas maduras.

Rommyr Fonttoura
Enviado por Rommyr Fonttoura em 29/11/2007
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