FELIZ ANIVERSÁRIO
Nasci no dia
do vira-lata.
Mas que canina
coincidência!
Talvez eu tenha
mesmo a essência
desse bichinho
de quatro patas!
Não há coleira
em nosso pescoço
e nem correntes
que nos amarrem.
Se não há carne,
roemos osso
e até caroço:
manga chupada.
(Não somos os cães
chupando manga...)
Vagamos só,
o céu como guia.
A lua, à noite;
o sol, de dia.
Comemos sobras
de vidas alheias.
O cão sacia.
Eu construo teias
de poesia.
Cabeça baixa,
orelha em pé:
não se adestra
um cão de rua.
Uivamos sob
a luz da lua
sabendo o mundo
ser o que é.
Lambemos feridas
do próprio corpo
e nossa saliva
é o remédio.
Se eu não mato,
também não morro.
Eis o meu tédio...
Sai, cachorro!