Voltar ao Pará

Assentado no meu 3x4/

Nesse el dourado/

Num sábado/

Sem vontade de ver/

O que tem na Tv /

Vendo do sétimo andar/

A lua viúva do rio/

E tantas sepulturas/

Num ar de imenso vazio/

Cujos ruídos às escuras/

Deixa todo mudo frio/

Que fico com saudade/

Da minha cidade/

De ouvir o sabiá cantar/

No alto das mangueiras/

Do passeio nas feiras/

Da chuvinha de fim de tarde/

Das nativas cheirosas/

Do bacuri e de apreciar o Guajará/

Na verdade não há lugar/

Melhor que a nossa terra/

Se aqui é o coração do país/

A palavra de tantos versos/

Num som concreto/

Onde o ontem e o hoje não mais conversam/

O trem passa longe do bonde/

E as pessoas vão prá lá e prá cá/

Sem rir ou chorar/

Prefiro voltar ao meu Pará/

Quero voltar aos prazeres ardentes/

De minha Mariazinha/

Andar de barco nas entranhas das matas/

Sentir nos pés o ar úmido da terra/

Calar a boca numa cuia de tacacá/

Borrar os lábios com pirão de açaí com taumatá/

Deixar para trás as lágrimas/

Dessa visão/

O ar frio e seco expelido/

A garoa no alpendre do portão/

E os olhares multicoloridos/

Fora dos meus padrões/

Prefiro voltar ao meu Pará/

Lá a lua escreve poesias/

Os pássaros cantam com alegria/

Ao ver a mata e o mar/