MIL DIAS OU MAIS
Depois que morri
além de mil dias se passaram
a vida prosseguiu sem mim
e nada ficou parado
Os bares continuam lotados
são tantos os batizados
tem aqueles que seguem casados
outros hoje estão separados
e ninguém sequer se lembrou
de me criar um feriado
onde eu aos menos pudesse
a cada ano ser celebrado
Dos poucos que vieram ao meu velório
e lá atrás minha despedida honraram
suas vidas caminharam sem mim
deixei, logo, de ser pensado
até mesmo nos dias do meu aniversário
Se eu tivesse nascido sete vezes
e sete setenta vezes morrido
setecentas vezes velado
sete mil vezes enterrado
talvez ainda pudesse, às vezes,
brevemente no mínimo ser lembrado
Mas só se morre uma vez na vida
embora até agora continue morrendo
sempre que permaneço ocultado
na memória esquecida dos outros
onde acabei sendo, por fim, sepultado