Nos Cumes Do Desespero
À Emil Cioran
E muita vez, quase a chorar, reflito,
Preso às paredes de um quarto angustiante,
Quando ao mirar-me num espelho, fito
Um rosto à minha dor tão destoante!
Se eu pudesse estampar no meu semblante,
Toda desgraça do meu peito aflito
Tornar-se ia a aparência semelhante
À convulsão do Murchiano Grito!?
Qual um devoto arrastando seu rosário
Vou carregando a cruz do meu calvário
Entre o rumor da distraída multidao!
E quem me olha de relance não repara
Que a harmonia tão vulgar da minha cara
Somente é dor se posta à luz da solidão!