Nos Cumes Do Desespero

À Emil Cioran

E muita vez, quase a chorar, reflito,

Preso às paredes de um quarto angustiante,

Quando ao mirar-me num espelho, fito

Um rosto à minha dor tão destoante!

Se eu pudesse estampar no meu semblante,

Toda desgraça do meu peito aflito

Tornar-se ia a aparência semelhante

À convulsão do Murchiano Grito!?

Qual um devoto arrastando seu rosário

Vou carregando a cruz do meu calvário

Entre o rumor da distraída multidao!

E quem me olha de relance não repara

Que a harmonia tão vulgar da minha cara

Somente é dor se posta à luz da solidão!

Moreira Júnior
Enviado por Moreira Júnior em 26/07/2022
Reeditado em 26/07/2022
Código do texto: T7568605
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