VERSOS BRANCOS

Não faço versos métricos

meus sentimentos são quilométricos

e os sonhos voam à velocidade da luz

Não sou francês

inglês ou japonês

Sou brasileiro

que às vezes escreve português errado

fala nordestino com sotaque pernambucano

e que gosta de viver solto e desamarrado

Meus poemas têm versos brancos

e não seguem a linha reta

por isso são todos quebrados

uns mancos e outros até amputados

Versejo afoitamente

não sou lá chegado a floreios

mas tenho sempre cá comigo

meus ritmos e melodias

meus esmeros e meus acabamentos

Nada contra quem versa a palmo

até admiro quando os leio

mas como disse não sou tão calmo

e meu guarda-roupa é sempre bagunçado

mexido, disperso e desarrumado

Meu lirismo é subversivo

algumas vezes brincante e festivo

e se aqui me apresento rimado

talvez seja por ser também enxerido

Se ser poeta for ser louco

sou insano, maluco e desvairado

mas poetas não são doidos

dementes ou alienados

poetas são como crianças

brincando de ser gente grande

Vai, então, meu menino, vai

que o mundo te convida

a passar pela vida sendo poeta

e se assim não fosse

nem saberíamos sequer ser outra coisa

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 26/07/2022
Reeditado em 26/07/2022
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