APENAS HUMANO, POR DEMAIS HUMANO
Não posso me curar de mim
logo eu que nasci colado à cara
Não posso apagar os erros que cometi
mas posso aprender com eles
Me confessar
pedir desculpas
rezar um pai-nosso
três ave-marias
depois fazer jejum
e novos erros praticar
Magoei
machuquei
ofendi
pequei
menti
fiz quase tudo
que um ser humano sempre faz
Xinguei
e fui xingado
Transviei
e fui extraviado
Falseei
e fui enganado
Feri, afrontei
mas apanhei
e fui maltratado
Vivi quase tudo
que um ser humano
vive, sofre e sempre faz
Freud dizia que
existimos como se fosse de ferro
porém somos feitos de carne
Em meu corpo há desejos
que até deus desconhece
ainda assim cometi coisas
que poderia também ser santificado
Sei que errar é humano
mas quando erro me sinto culpado
Se erram comigo, então,
de pronto já fico todo irritado
Minha melhor imperfeição
é não conseguir ser perfeito
e sim incompleto, falho
incorreto e inacabado
que nem sempre anda direito
pois também piso com o pé esquerdo
É preciso coragem de ser quem se é
não temer ser tachado ou acusado
pois fomos escritos e criados
por uma divina caligrafia sinuosa
ou foi a natureza que nos fez
pra tentarmos acertar sendo errados
Quem tem medo de errar
deixa por sua vez de viver
e quem, vivo, não vive
está por inteiro
perfeitamente errado
Não brotei das ciências exatas
por isso sou ambíguo
impreciso, indefinido e inexato
Não posso me curar de mim
já que no espelho me vejo humano
e nasci comigo colado à cara