APENAS HUMANO, POR DEMAIS HUMANO

Não posso me curar de mim

logo eu que nasci colado à cara

Não posso apagar os erros que cometi

mas posso aprender com eles

Me confessar

pedir desculpas

rezar um pai-nosso

três ave-marias

depois fazer jejum

e novos erros praticar

Magoei

machuquei

ofendi

pequei

menti

fiz quase tudo

que um ser humano sempre faz

Xinguei

e fui xingado

Transviei

e fui extraviado

Falseei

e fui enganado

Feri, afrontei

mas apanhei

e fui maltratado

Vivi quase tudo

que um ser humano

vive, sofre e sempre faz

Freud dizia que

existimos como se fosse de ferro

porém somos feitos de carne

Em meu corpo há desejos

que até deus desconhece

ainda assim cometi coisas

que poderia também ser santificado

Sei que errar é humano

mas quando erro me sinto culpado

Se erram comigo, então,

de pronto já fico todo irritado

Minha melhor imperfeição

é não conseguir ser perfeito

e sim incompleto, falho

incorreto e inacabado

que nem sempre anda direito

pois também piso com o pé esquerdo

É preciso coragem de ser quem se é

não temer ser tachado ou acusado

pois fomos escritos e criados

por uma divina caligrafia sinuosa

ou foi a natureza que nos fez

pra tentarmos acertar sendo errados

Quem tem medo de errar

deixa por sua vez de viver

e quem, vivo, não vive

está por inteiro

perfeitamente errado

Não brotei das ciências exatas

por isso sou ambíguo

impreciso, indefinido e inexato

Não posso me curar de mim

já que no espelho me vejo humano

e nasci comigo colado à cara

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 25/07/2022
Reeditado em 25/07/2022
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