VÁCUO
Inspirado a partir de Porque, poema de Sophia de Melo Breyner Andresen
Porque os outros sabem os porquês, eu não
Porque ouço muitas certezas, e as minhas não
Porque nada mais importa, e há esta missão
de pôr uma nota entre a palavra e a canção.
Porque você olha sempre de frente, e eu não
Porque o seu caminho é melhor, e o meu não
Porque a vida pode ser simples, mas sou o não.
Porque às quatorze, o que chama total atenção
é a tarde estendida, baixa e bege, na contenção
do quarto, no ar escasso do poema sem direção.
Porque meu verso saiu. E o xis está na sua mão.