A CASA DA INFÂNCIA

Todos se foram

uns de morte morrida

outros porque se mudaram

e até a eternidade partiu

e nunca mais foi encontrada

Para onde foram todos

que um dia ali estavam?

Do menino apenas tenho notícias

das vezes que lembro dele

ou lendo gibis na soleira da porta sentado

ou correndo atrás das lagartixas

que ali também habitavam

Nada mais ficou

nem os móveis, os tapetes e os retratos

mas talvez ainda exista

o pé de feijão que no quintal

um dia lá atrás foi plantado

O que resta são as paredes descascadas

olhando o silêncio dos espaços desocupados

e se elas tiverem a memória que tenho

deverão estar agora chorando

lágrimas disfarçadas de mofo e umidade

Certa tarde passei na frente da casa

em que todos éramos felizes e morávamos

e vi formigas carregadeiras levando

pedaços da minha infância

que apressado acabei deixando

esquecida por lá em algum lugar

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/07/2022
Reeditado em 23/07/2022
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