Devaneios de um Poeta
Do pó.
Da terra que exala o cheiro do orvalho que banha sua face.
Das matas agonizantes que em chamas clamam aos céus ao menos uma brisa que lhe sirva de bálsamo.
Dos rios de curso insistente,
sinuosidade que flerta com as águas do mar distante.
Das criaturas que povoam a profundezas do oceano.
Do sol que abraça o planeta na ternura mortal das suas labaredas incandescentes.
Da criancinha que ensaia seus primeiros passos.
Que num desequilíbrio da sua fragil estrutura,
tem mãos firmes que a amparam.
Das flores que doam seu néctar às abelhas famintas.
Da lenha que vai ao forno no prenúncio de que algo gostoso está prestes a ser preparado.
Da noiva que se enfeita ansiosa na espera do amor que lhe seja consumado.
Do mendigo que vai dormir mais uma noite de barriga vazia.
Do passarinho que labutou sozinho na construção do seu ninho.
Do moribundo que cerra seus olhos no fatídico destino do ser humano.
Da fé que não se abala diante do diagnóstico cruel.
Dos olhares que juraram amor num calçadão qualquer,
sem nunca mais se ver.
Do aposentado que enfrenta a fila de uma farmácia só para obter remédio de graça.
Do trabalhar que sentado à janela vê no vidro o reflexo do seu rosto cansado.
Da mulher que acaricia a barriga,
porque o teste de gravidez deu positivo e ela se encontra feliz.
Da vida que segue o seu curso.
Das estações que não falham.
Da natureza que se mantém dócil-indomável.
De Deus que permanece imutável.
Do homem de emoções e sentimentos.
Da alma que se esvai em lágrimas.
Da poesia que se escreve,
que se lê
e é inspirada.
De cada um de nós falhos seres limitados,
porém portadores de dons e talentos que trazem um sentido colorido à vida.