Casulo
Das janelas da minha alma eu a observo.
A visão mais fiel da face da beleza.
Ali diante da placidez do lago,
vestida dos raios prateados da lua que delicadamente beijam sua pele.
Passo a passo ela se aproxima das águas das suas reflexões.
Águas da sua imersão.
Mansamente ela repousa seus pés no liquido espelho,
mergulhando na quietude do seu íntimo que a chama para sua introversão habitual,
tornando-se una com seus pensamentos que desconectam por alguns instantes sua mente do mundo exterior,
focando suas energias psíquicas numa metamorfose das suas ideias e imaginação.
Ali,
No seu casulo secreto,
ela contempla a si mesma nas visões das suas lembranças,
nas muitas histórias que sobre si mesma escreveu.
Ali ela pode deixar de ser mulher e voltar a ser criança.
Pode deixar de ser princesa e viver como uma simples plebeia,
se misturando com suas imaginações mais simples,
ela pode tudo,
mergulhada nessa imersão.
Em líquidas lágrimas que regam seu coração,
ela sorri.
Mas como num autoeclipse,
oculta o brilho do seu sorriso,
para que nesse momento,
vestída bem a vontade com seu pijama pontilhado de estrelas,
esse sorriso seja só seu,
um farol que a norteia a descobrir-se cada vez que se aventura a mergulhar na quietude de sua alma até conseguir tocar no mais profundo do seu ser,
a perder-se em si mesma,
a desvendar-se mulher.
Absorta nessa quietude,
ela queria eternamente se render a esse momento,
onde pudesse derramar bálsamo nas feridas que o mundo caótico lhe fez,
feridas que não se vem na sua pele,
mas que ainda sangram nos seus sentimentos e emoções.
Ela se retrai ao mundo distante.
Sua mente se sente segura no casulo da sua intimidade
Temo estar cometendo um vil pecado ao ousar imaginar sua metamorfose.
Mas meu coração me culparia até o fim dos meus dias se eu ousasse privar os olhos da minha imaginação de tão bela visão,
que mergulha meu pensamento junto dela nessa imersão purificadora nas águas cristalinas da sua alma inocente.
Mas,
subitamente ela se dá conta de que precisa abandonar sua realidade e voltar para o mundo irreal.
Então lentamente ela começa a romper as camadas do seu casulo até que como uma bela borboleta possa abrir suas asas e voar com resignação,
Abrindo mão do seu claustro de reflexões,
voluntariamente se deixa prender novamente às correntes rotineiras do tempo.
sabendo que terá que tolerar a incapacidade do mundo em entendê-la.
Ela então vai com o sorriso renovado e a alma mais leve do que nunca.
Seguindo o fluxo monótono e cansativo à sua volta.
E eu,
eu a observo de longe,
das janelas da minha alma.
Aguardando ansioso até que meus olhos possam contemplá-la novamente,
na sua metamorfose,
na sua intimidade,
quando mais uma vez ela mergulhar no seu mundo introspectivo para voltar a ser livre
em si mesma.
(Imagem fonte site: ehow.com.br)