DOS PÉS SEM CAMINHO

Meus pés, cobertos de terra e tempo,

São quase defuntos,

Livres da prisão dos sapatos, da alma e dos mundos.

Sabem, agora, inventar seus (des)caminhos

Sem sair do lugar,

Sem viver ou morrer,

Na necessidade de sempre mudar.

Pois não há no planeta

Qualquer canto ou lugar

Onde reconheçam a inércia de um lar.

Por isso, eles nunca descansam.

Estão sempre sonhando caminhos,

Adivinhando mapas em precipícios,

Perdidos nas inercias de movimentos incertos.

Meus pés criam caminhos

Onde germinam espantos.

Pois são movidos a sustos

E desesperanças

Nos labirintos de um só lugar.