MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO
Um dente se foi
assim como as horas
que a memória não guardou
Em que covas rasas foram enterrados
os momentos não lembrados
que a alma negligenciou?
Tenho mais buracos das coisas ignoradas
que as paredes decoradas de retratos
dos corredores intricados em que caminho
nos meandros internos do labirinto de quem sou
Em meu tecido de fios enovelados
são tantas as horas largadas
no desapossar gradual dos dias sumidos
No fundo inacabável dos meus esquecidos
há um entulho imenso que desconheço
e que junto comigo me faz a vida inteira
Para onde foram as horas extraviadas
cheia de minutos ignorados
que desapareceram no meu interior antes mim?
Já o dente
por ser velho e estragado
terminou destinado à lixeira