MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO

Um dente se foi

assim como as horas

que a memória não guardou

Em que covas rasas foram enterrados

os momentos não lembrados

que a alma negligenciou?

Tenho mais buracos das coisas ignoradas

que as paredes decoradas de retratos

dos corredores intricados em que caminho

nos meandros internos do labirinto de quem sou

Em meu tecido de fios enovelados

são tantas as horas largadas

no desapossar gradual dos dias sumidos

No fundo inacabável dos meus esquecidos

há um entulho imenso que desconheço

e que junto comigo me faz a vida inteira

Para onde foram as horas extraviadas

cheia de minutos ignorados

que desapareceram no meu interior antes mim?

Já o dente

por ser velho e estragado

terminou destinado à lixeira

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 18/07/2022
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