O abismo entre a alma, o vazio e a sorte.

As vezes eu queria muito poder voltar no tempo, e nessas vezes eu me questiono como alguém com a minha sorte quer voltar no tempo?

Uma promiscua, rodeada de abusos, sem sequer um pingo de alma. Mas com sorte, muita sorte eu diria!

Desde quando a minha alma partiu, abriu um espaço para um vazio, um profundo e escuro vazio. Mas esse vazio é tão cheio de mim, que eu tenho medo de ficar sozinha ali.

Eu não me lembro do exato momento que minha alma se foi, mas eu lembro como era bom quando ela ainda habitava em mim.

Eu lembro que até quando eu apanhava de cinto do meu avô a minha alma gritava, ela ainda estava aqui.

Mas hoje, é como se eu vivesse em um universo paralelo, como se tudo que eu fizesse para senti-la fosse em vão.

É como se existisse um grande abismo entre a minha alma e esse vazio, só que minha alma esta do lado de fora e o vazio está aqui dentro.

Nessas horas me pergunto, cadê aquela sorte que sempre me acompanhou?

Por quê a minha sorte não trás minha alma de volta?

E nisso eu escuto o vento, é como se ele soprasse para a direção que eu tenho que ir e mesmo incrédula eu sigo.

Aliás, o que é mesmo que eu tenho a perder se o mais importante eu já perdi.

A sorte segue me acompanhando, ela me trás tudo que eu preciso para sobreviver bem e confortavelmente.

E quando eu a perco de vista, eu grito aos ventos e ele sopra novamente.

Mas nunca trazendo aquilo que eu realmente quero!

Talvez eu almeje tanto ter minha alma de volta pois, assim não tenho que ficar de frente para o meu próprio espelho vendo o que me tornei.

Vendo cada passo que eu dei para me tornar quem sou.

Eu sei, eu me vejo.

Mas não gosto disso, porque me ver assim é como assinar o meu próprio testemunho de auto piedade.

É como dar a sorte um motivo para ir embora também.

Será que se eu roubasse um pedacinho da alma daqueles que tiraram-na de mim, seria crime?

Eu preencheria esse vazio que há muito tempo habita em mim, ou eu simplesmente levaria comigo o desejo de arrancar a alma dos outros assim como fizeram comigo?

Bendita seja a sorte, que no vazio me acompanha.

Bendita a sorte, que me acompanhará até o fim dessa jornada falida para recuperar a minha alma, pois até lá já terei me perdido nesse abismo ou terei aceitado de vez que jamais sentirei minha alma pulsar novamente.