Lugar

Há um lugar...

Não é terra, não é mar

Para lá ninguém quer ir

Nem de lá se há de voltar

Ali penam muitos santos

Na inocência de seus atos

Mas tomados como afins

Aos profanos condenados

Tal qual ilha de remorso

Dolo e culpa estão à mostra

Com a mesma tinta negra

Do pecado dos leprosos

Há um lugar...

Do princípio que existe

Como nunca agora cresce

Para o sempre ele persiste?

Para lá tu me imaginas

Na demência de teu tino

Transtornado por meus gestos

Difamados como ímpios

Tal qual néscio tribunal

Já julgaste-me, e mau

Antes mesmo de saberes

Se fui eu tão anormal

Há um lugar...

Sempre e nunca se misturam

Cá e lá mal se percebem

Tudo e nada se conturbam

Tu não vês que lá no fundo

Tu e eu e todo mundo

Somos fios do mesmo trapo

Tão manchado, tão imundo

Tal qual óleo em seu querer

Mesmo todo maldizer

Nessa água em que me jogas

Não me afogo: vou viver!