APRISIONADOS, PÁSSAROS OU NÃO
Meus vizinhos tem pássaros
Tantos outros vizinhos tem pássaros
Aqui ou em terras distantes
Outros animais sem estimação!
A cada alvorecer
Gorjeiam tristes em suas celas
De metal polido ou Pinho de Riga roubado de floresta ingênua
Em seus Auschwitz particulares fadados ao infortúnio
Cercados de liberdade alada e tantas outras privações
Projetados para gorjearem em matas de exuberantes belezas
Que em retribuição simbiótica exalam oxigênio
Enquanto eles em sua infinita simbiose espalham sementes
Que são guardadas, aquecidas e amadas
Então, eclodem nas cercanias
Pés fincados à terra mãe, verticalizam seus caules
Infinitos, aflitos para o céu alcançarem
Pau Ferro, Pinho de Riga, Jequitibá, Pau Brasil e tantas outras
De perfeita e igual valia
Paradoxalmente eles que gorjeavam seguros em suas copas
Agora são aprisionados por tal matéria-prima, quase irmã
Apenas pela ação nefasta dos que se auto proclamam donos
Donos do que definitivamente não pode ser domado
Arrogantes seres, saqueadores, predadores contumazes e algozes!
Que recebem retribuição da natureza
Ah, que todas as tormentas recaiam sobre nós!
Que todos vulcões expilam lavas!
Que todas as enchentes, tsunamis, terremotos, e afins
Desabem sobre nós!
Por todos eles alados ou não
Enjaulados em zoológicos, aquários marinhos, para sombria diversão
Sejam um dia, uma hora tardia para total libertação
Haja visto, falecidos, extintos e mutilados, por tantas sinistras mãos
Talvez um dia percebamos
O quanto desumano nos tornamos!
Distantes estamos, além de todo senso, sem compaixão!
Triste espécie Humana encarcerados em seus próprios desmazelos
Sejam seus corações libertos de tal prisão absolutamente sombria
Sim, eles têm pássaros que gorjeiam tristes em suas celas!
Sim, tantos outros indefesos animais, brutalizados e tristes, em suas celas!
Em suas celas…
Em suas celas…
Em suas celas…
Rio, 15/07/2022