A Superstição
Era um exíguo povoado interiorano
(De um isolado território brasileiro)
Habitado por um povo muito Humano
Bem humilde, humorado e hospitaleiro!
Natural que ali reinasse e existisse
Muito acima da razão, sobrelevada
A riqueza cultural de uma crendice
Recrudescida pela ação oralizada!
Entre a paz daquele bom quotidiano
Um sujeito de prestígio sobranceiro
Porém longe de andar com ar ufano
Perpetrava o ofício de coveiro!
Agente único daquela atividade
Acolhido pelo povo com respeito,
Que um dia por razão da sua idade
Se Acabou na solitude do seu leito!
Após notarem o defunto do coveiro
Todos sairam pela rua a entoar:
Não se deve enterrar um carniceiro
Quem o fizer trará pra si um grande azar!
A voz da crença alarmou o povoado
E a idéia adquiriu mais relevância
Quando num misto de agouro e elegância
Um urubu se assentou sobre o finado!
Da multidão alguém gritou estarrecido:
O negro abutre apareceu pra visitá-lo...
E por ninguém se predispor à enterrá -lo,
Por sobre a cama que morreu foi corrompido!
Passaram anos, e onde havia o seu lar
Edificaram a pracinha do Coreto
Ao centro dela numa espécie de altar
Dá pra se ver o que restou do esqueleto!