INVENTARIANTE
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.
Eugênio de Andrade
Para você eu guardei as histórias
úmidas dos orvalhos das auroras
e suas frestas de múltiplos rosas
que aspergem roxos pela encosta.
Tudo em mim é seu, desde as horas
que me torcem de soslaio, ao espólio
de poemas inúteis expostos nos blogs
sem vivalma, onde, vazios, se alojam.
Batizei jardins com seu nome próprio,
e dei à sua falta esse almíscar que sobe
entre as vísceras da neblina dos corpos
substitutos do seu, que sempre invoco.
Eu já assinei a súmula de partida e imploro
que aceite os meus nadas. E depois os solte.