John Coltrane

Taça quebrada,

Bituca de cigarro,

Restos,

Cacos,

Lixos,

Quinquilharias,

E eu.

Tudo que já não serve,

Tudo que já se consumiu ou que foi consumado,

Sempre encontra o nada,

Já que nada pude encontrar,

Fui atrás do desencontro,

Como um eclipse numa noite chuvosa,

Especial porém impossível de se ver.

Um talento anônimo,

Preso no meu cubículo,

No meu desamor,

No mesmo boteco incolor,

De tudo, um pouco ficou. O cristal que não mais ressoa, o cigarro que mata mas sacia.. vc que comigo não está presente, mesmo assim me penetrou … Como chuva no jardim, que não mata apenas a sede, mas devora-me.

Ratos agora dançam sobre o que resta do colchão

Marcas de gozo no banheiro, nas paredes, no chão, em cima da pia...

Fora amor, e também não…

Na pia, onde jorrava alegria, agora já nem pinga

E as garrafas espalhadas em convulsão

Espasmos do que houve um dia...

O rádio, também esquecido pelo tempo,

Se veste agora de ornamento - com suas canções de amor já silenciadas

A casa jaz vazia (onde outrora festa se fazia)

Afasia… Essa doce afasia dentro da noite fria...

E um disco melancólico de Coltrane.

Jey division e Lagartixa
Enviado por Jey division em 14/07/2022
Código do texto: T7559828
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