AFLORAÇÃO EXPRESSIONISTA
É aos poucos...que a gente vai se aclarando.
A percepção já não se permite ludibriar quando
Os sentidos aguçados arrancam todas as vedações.
Como numa moldura já estilhaçada,
Aos poucos toda a liberdade de ser...é conquistada.
Portas e janelas se abrem sem ranger
E se desnudam das abafadas e distorcidas inquietações.
Nos horizontes brilham só os sóis das constatações.
Pelos orifícios das fechaduras oxidadas
Aos poucos,
Todos os íntimos "lockdowns" se desatam de nós,
Da marra das amarras!
E o amplo pulso dum universo tão desfeito
Empurra a face culpada à tela do tanto não feito.
Aos poucos...é como se
As flores aflorassem com muito cuidado pelos respiros das ruínas
Como se em descuidados milagres
Espiassem e brilhassem...na contumaz expiação.
Sem ter que dar explicação.
Vidas sedentas
Sorvem, então, as águas que sobraram dentre a fumaça densa...
Sobre o solo recém chegado
Nunca irrigado!
Dum despertar à justa recompensa.
É aos poucos que todo cenário se vai aclarando...
Das noites que lhe desceram herméticas.
Aos poucos os olhares fechados se aguçam
E as crenças soltam gargalhadas às palavras
Como se numa descrença patenteada pelo tempo.
É quando os ouvidos, aos poucos...
Ganham acuidade discriminatória aos males da cacofonia,
E a toda a orquestra soa nítida.
Notas por notas,
Sons por semitons...
É quando nos soa
O nunca mais!
Ao semitonar dos sentidos.
O tato já não se confunde com falsas "caiações".
Ele as toca com propriedade digital!
Chega um tempo...que, aos poucos, a gente melhora.
E todas as texturas gritam suas espessuras legítimas
Pela partitura que sente -profundamente! cada pulso dos sentidos.
Assim,
É aos poucos que a gente aflora.
É quando a alma, plena e resoluta, dança ao alto
Segura dos sentidos
Toda sua já leve plenitude expressionista.
Sem falsos maestros,
Liberta em todas as claves.
Sem medos e sem conclaves!
Expressa alma na omitida realidade.