Dislexia
Sobre o semblante pesa uma névoa
uma densa camada de sombras
que ofuscam o brilho da vida, se é que existe tal brilho... Não consigo assimilar o que agora está diante do olhar, implícito.
Sinto apenas o descontentamento acerca de tudo ao redor, paira diante de mim a inércia até de sentir, sem saber o que vejo, e pra onde seguir...
Paira perante à face dos dias, a incompletude dos recomeços, e das esperanças amortecidas.
Jaz sobre a retina o verso perdido, desencontrado, sem forma e amortecido, através das mãos tento extirpar, abortar tanta falta de inspiração
Palavras amorfas que causam amargor na garganta que envenenam, se contorcem até os confins das entranhas
... Como vento que sopra ao longe, tento segurar, agarrar-me ao que constantemente dos meus dedos fogem, escorrem
Como um enigma antigo, uma incógnita, um elo quebrado, sem quaisquer resquícios, ainda que os evoque.
Tal veneno consome, disseca...
Esse oco sem eco, dias de luta do agora pensamento disléxico, de um torpor que golpeia como uma prece sem rumo, sem credo,
Vagueio nesta noite escura, fria e sem a luz da lua, assombrada pelo tempo adverso, sem cor, sem o gozo dos versos, peregrinando sobre cacos, sob o jugo da pior das loucuras... de um dia sem encanto, da inspiração que esvai-se por entre os dedos atrofiados, que desafia a inércia de uma folha em branco que suspira tanto enfado.