Dizem
Ouvi
Que empunhados com cicatrizes do nosso povo
Cheirando a metal em brasa
Alguns homens lideram a latência de revoltas
Ouvi
Que nossos olhos tombaram domesticados
Na cegueira perante a catinga da dor
E que aqueles sonhos ignoraram suas próprias asas
Ouvi
Que nossos calos já se alegram por não ser pior
O semblante a fome de nossos rebentos
E que o silêncio hoje salva vidas
Ouvi
Com o salgado suor da labuta
Que há quem toma vinho sobre nossas lutas
E adormece seu fel em donzelas inocentes
Ouvi
Que a marcha implorando pão
Tem bilheteira e camarote dos poetas das promessas
E virão com suas palmas adocicar o teatro
Ouvi irmãos
Que há projectos de hidroelétricas
Esperando o rio das nossas lagrimas
Para iluminar seus desapiedados apetites
Pena é que eles nao ouviram
Nem tacteiam nas ondas do silêncio
O quão alto soa nosso grito
O quão imortal é nossa teimosa coragem.