Dizem

Ouvi

Que empunhados com cicatrizes do nosso povo

Cheirando a metal em brasa

Alguns homens lideram a latência de revoltas

Ouvi

Que nossos olhos tombaram domesticados

Na cegueira perante a catinga da dor

E que aqueles sonhos ignoraram suas próprias asas

Ouvi

Que nossos calos já se alegram por não ser pior

O semblante a fome de nossos rebentos

E que o silêncio hoje salva vidas

Ouvi

Com o salgado suor da labuta

Que há quem toma vinho sobre nossas lutas

E adormece seu fel em donzelas inocentes

Ouvi

Que a marcha implorando pão

Tem bilheteira e camarote dos poetas das promessas

E virão com suas palmas adocicar o teatro

Ouvi irmãos

Que há projectos de hidroelétricas

Esperando o rio das nossas lagrimas

Para iluminar seus desapiedados apetites

Pena é que eles nao ouviram

Nem tacteiam nas ondas do silêncio

O quão alto soa nosso grito

O quão imortal é nossa teimosa coragem.

Odibar João Lampeão
Enviado por Odibar João Lampeão em 12/07/2022
Código do texto: T7558077
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