A Minha Aldeia 


Na igreja da minha aldeia
tocam os sinos
badalam as almas
em corpos inocentes
entre nuvens sorridentes 

Tocam os sinos
soam as horas
no campanário
da minha aldeia
com sorrisos do astro rei 

Badalam os sinos da minha aldeia
é o acordar
da gente simplória
por jardins verdejantes
que ainda estrebucha
na cama meio atordoada
sonolenta 

Retocam os sinos da silvestre aldeia
repicam os sinos
para o despertar
de mais um dia
de trabalho de suor
de desespero
por um trabalho
árduo febril 

Tocam os sinos da minha aldeia
as crianças
lá vão para a escola
com a sua escassa bucha
para o intervalo das aulas 

Repicam os sinos da minha aldeia
todos correm
por ruelas tranquilas
que têm de fazer
Trabalho penoso 

Soa o badalo da minha aldeia
tocam os sinos
entoam o tempo sem parar
enquanto uma enxada
penetra na terra
fértil
enquanto as crianças
brincam nas ruelas
soletram
as primeiras letras
b a ba
b o bo 

Tocam os sinos da minha aldeia
a enxada continua
a trabalhar
com aqueles braços
musculosos
de homens famintos
olhos vidrados na esperança
pela sobrevivência 

Badalam os sons
O Sol põe-se
atrás dos montes
da minha aldeia
triste ao olhar
as sombras
dos que se deslocam
fatigados suados
com passos indecisos
enfraquecidos
pelo brutal trabalho
de Sol a Sol 

na igreja da minha aldeia
tocam os sinos
em dias primaveris
enquanto naquelas
casas se comem
côdeas de pão
embebidas em vinho
com o suor a escorrer
nas veias daqueles pobres
homens mulheres crianças 

Repicam os sinos da minha aldeia
Soam as horas implacáveis
no campanário
no largo da igreja
agora adormecida
na sonolência do pecado
perdoado
com o luar observador
atento 

Toca o sino
E adormeço eu
Na plenitude do meu beco
Fechado para a eternidade.
pedrovaldoy
Enviado por pedrovaldoy em 28/11/2007
Reeditado em 31/01/2010
Código do texto: T755709