A IMORTALIDADE REPENTINA DOS MINUTOS

Cadê o minuto que aqui estava

que a pouco me absorvia

e eu inteiro nele existia?

Para onde vão os minutos

essas minguadas partículas das horas

quando se soltam dos relógios

deixando-me sozinho com suas ausências

no exato instante em que aqui respiro?

O que leva dos meus pretéritos presentes

os fugidios minutos de mim furtados

pelas garras incorpóreas do tempo?

Para onde se foram o cheiro do café coado

o toar estridulante dos grilos

e o resfriado sereno das madrugadas?

Nos minutos vindouros ainda lembrarei

da mudez distante das estrelas

do assoviar da vizinha ao lado

e do ocaso do Sol de soslaio flagrando?

Dos milhões dos minutos passados

quantos até lá me restarão no interior das retinas

no caducar exaustado das miopias?

Na fogueira incandescente do presente

os minutos que me antes eram brasas

tornam-se farelos espalhados de cinzas

no amontoar sobrante das memórias

Queria

nem que fosse por um átomo

segurar este meu agora minuto

e nele para sempre poder me fincar

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 10/07/2022
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