A IMORTALIDADE REPENTINA DOS MINUTOS
Cadê o minuto que aqui estava
que a pouco me absorvia
e eu inteiro nele existia?
Para onde vão os minutos
essas minguadas partículas das horas
quando se soltam dos relógios
deixando-me sozinho com suas ausências
no exato instante em que aqui respiro?
O que leva dos meus pretéritos presentes
os fugidios minutos de mim furtados
pelas garras incorpóreas do tempo?
Para onde se foram o cheiro do café coado
o toar estridulante dos grilos
e o resfriado sereno das madrugadas?
Nos minutos vindouros ainda lembrarei
da mudez distante das estrelas
do assoviar da vizinha ao lado
e do ocaso do Sol de soslaio flagrando?
Dos milhões dos minutos passados
quantos até lá me restarão no interior das retinas
no caducar exaustado das miopias?
Na fogueira incandescente do presente
os minutos que me antes eram brasas
tornam-se farelos espalhados de cinzas
no amontoar sobrante das memórias
Queria
nem que fosse por um átomo
segurar este meu agora minuto
e nele para sempre poder me fincar