Divagações

 

Como são belos teus olhos formosos

Assim tão negros como a noite escura!

Razão dos sofrimentos desditosos

Da minha tristeza e desventura!

 

   Não corras assim no descampado;

Solto os cabelos, a espádua nua;

O vento que assopra neste prado

Sopra em teu rosto, beija a pele tua!

 

Tens o aroma de um jardim celeste

Das flores do Jardim dos Capuleto;

Tens o sabor de uma fruta agreste

No teu olhar, em teu cabelo preto.

 

Como o plangido triste de um ramo

A balouçar que pelo vento arqueja

São os meus olhos! Sou um triste gamo

Sedento e longe da fonte que almeja!

 

O sol – como um sultão no céu fulgura

E te bronzeia, ó mulher divina;

Pele de arminho – ó bela criatura

Bebo teu choro – fonte cristalina!

 

Lá no seu ninho a juriti chorosa

Lamenta uma saudade, uma partida.

Também lamento, ó mulher formosa

Da minha vida – a tua despedida!

 

O teu dorso – um vaso de alabastro!

Cheio de unguento, oriental perfume;

Do sol, da lua, terra, qualquer astro

Do que lhe toca eu tenho ciúme...

 

 

Allves
Enviado por Allves em 09/07/2022
Reeditado em 09/07/2022
Código do texto: T7555837
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