Divagações
Como são belos teus olhos formosos
Assim tão negros como a noite escura!
Razão dos sofrimentos desditosos
Da minha tristeza e desventura!
Não corras assim no descampado;
Solto os cabelos, a espádua nua;
O vento que assopra neste prado
Sopra em teu rosto, beija a pele tua!
Tens o aroma de um jardim celeste
Das flores do Jardim dos Capuleto;
Tens o sabor de uma fruta agreste
No teu olhar, em teu cabelo preto.
Como o plangido triste de um ramo
A balouçar que pelo vento arqueja
São os meus olhos! Sou um triste gamo
Sedento e longe da fonte que almeja!
O sol – como um sultão no céu fulgura
E te bronzeia, ó mulher divina;
Pele de arminho – ó bela criatura
Bebo teu choro – fonte cristalina!
Lá no seu ninho a juriti chorosa
Lamenta uma saudade, uma partida.
Também lamento, ó mulher formosa
Da minha vida – a tua despedida!
O teu dorso – um vaso de alabastro!
Cheio de unguento, oriental perfume;
Do sol, da lua, terra, qualquer astro
Do que lhe toca eu tenho ciúme...