PEDRA DE ROSETA

Quem mais chegou perto de me decifrar

foi a mulher com quem aprendi a amar

Ela me ensinou a paciência dos afetos

a cadência dos gestos

o tolerar das horas incertas

e o alfabeto afônico dos silêncios

Com ela compreendi a aceitar

que amor não é afogo

ou fogo perpétuo

como chama que não apaga

nem nos dias ou nas noites

das torrentes chuvosas de inverno

É coisa que se lavra

semeia e se planta

se cuida e se colhe

e na entressafra dos frutos

sob a sombra de uma árvore frondosa

se descansa, repousa e dorme

Esta mulher que aceitou me amar

me ama como se fosse uma rosa

mas como tem cheiro de rosa

pétalas ovaladas de rosa

jeito, frescor e cor de rosa

talvez ela seja mesmo uma rosa

Esta rosa com nome de rosa

fez-me descobrir que o amor

é feito veneno que se infiltra aos poucos

hiberna, se espicha e nos absorve

e quando menos se espera

já estamos amando,

tão calmamente

Amor não é fome nem sede

sequer é uma emoção

amor é consciência e certeza

certeza de que não quero perdê-la não

Espero que um dia ela enfim me decifre

e depois por inteiro me devore

para nunca mais sair de dentro dela

onde nossos sonhos serão despertos

pelos séculos dos séculos

ainda bem

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 07/07/2022
Reeditado em 08/07/2022
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