PEDRA DE ROSETA
Quem mais chegou perto de me decifrar
foi a mulher com quem aprendi a amar
Ela me ensinou a paciência dos afetos
a cadência dos gestos
o tolerar das horas incertas
e o alfabeto afônico dos silêncios
Com ela compreendi a aceitar
que amor não é afogo
ou fogo perpétuo
como chama que não apaga
nem nos dias ou nas noites
das torrentes chuvosas de inverno
É coisa que se lavra
semeia e se planta
se cuida e se colhe
e na entressafra dos frutos
sob a sombra de uma árvore frondosa
se descansa, repousa e dorme
Esta mulher que aceitou me amar
me ama como se fosse uma rosa
mas como tem cheiro de rosa
pétalas ovaladas de rosa
jeito, frescor e cor de rosa
talvez ela seja mesmo uma rosa
Esta rosa com nome de rosa
fez-me descobrir que o amor
é feito veneno que se infiltra aos poucos
hiberna, se espicha e nos absorve
e quando menos se espera
já estamos amando,
tão calmamente
Amor não é fome nem sede
sequer é uma emoção
amor é consciência e certeza
certeza de que não quero perdê-la não
Espero que um dia ela enfim me decifre
e depois por inteiro me devore
para nunca mais sair de dentro dela
onde nossos sonhos serão despertos
pelos séculos dos séculos
ainda bem