Glauco acordou e viu que suas pernas e mãos não estavam mais desamarradas. Se sentou na cama, tentando lembrar com um pouco mais de exatidão, a noite borrada de ontem… A garganta inflamada com gosto de sangue, trazia-lhe a amarga verdade. Ele se descontrolou… Passou tantos sob a máxima de que “cerveja não enlouquece” e agora, tinha dificuldade em encontrar sanidade e sentido na noite de ontem. Levantou e foi caminhando devagarinho pelo pátio do Hospício… Visualizou a recepcionista sentada ao lado do portão. Ela sorriu. Uma enfermeira ao seu lado, definitivamente NÃO sorriu. Sentou-se perto de Layla e Arthur, escutou que planejavam fazer sexo no banheiro entre a troca de funcionários da segurança. “Vocês… vocês são… Namorados?”. Os dois se olharam com um riso de escarnio e depois simplesmente ignoraram a presença do “novo cara”. Glauco puxou uma cadeira e se sentou… Havia uma garota que rodava sem parar em volta da piscina. “o que ela têm…?”, “ah. Ela é louca ué.”. Artur respondeu. Glauco tentou rir… Mas no fundo estava desamparado entre dois idiotas. Ao menos ele tinha alguma coisa na cabeça, algo que cutucava o seu juízo, lhe dizendo constantemente que não havia NADA engraçado ali. Era o fundo do poço. Todos falaram disso, todos avisaram… “Er… comigo foi bebida.”, respondeu a pergunta que nem tinha sido feita. “Ah! Bebados são os piores… ficam se sentindo OS lúcidos da turma”, disse a menina fazendo um ar desdenhoso. Glauco sentiu que falava com crianças e parou de tentar, por muitas horas. Entre efeitos devastadores de medicações pra dormir e uma comida muito bem temperada. A informação ia descendo… 15 dias. 15 mil reais… 15 horas de visita. “Posso trazer um livro?”, Perguntou. “Não, você pode usar os livros da biblioteca.”, “eu não quero os da biblioteca… são de autoajuda… de religião… São Estúpidos.”, “você está ficando nervoso, Glauco? Quer que chame alguém…?”. Glauco arregalou os olhos. “Ela está insinuando que vai chamar os seguranças e enfermeiros e dizer que estou dando um escândalo??”. “Não, tudo bem… Vou procurar melhor…”, “… E participe das atividades, assim você sai logo, logo daqui.”. 15 dias, 15 noites de sono… 15 dias sem um copo de uísque. Um cara alto, com camisa de futebol, vinha andando de mesa em mesa, e falando com todos os internos. Ele tinha realmente um alto astral. Glauco sorriu.

 

– Tá aqui porque meu irmãozinho? Primeiro dia né? Relaxe.. O primeiro é o PIOR. Eu já tô na minha QUINTA internação! Bebida…

– Ahn… Eu também…

– Tamo junto. Desta vez eu me esforcei viu, cara… Tomei uma caixa inteira de Rivotril, pra não beber. Cheguei aqui morrendo… overdose. O médico disse que é raro ver um paciente que prefere morrer do que beber de novo. Ele está confiante. Eu confio nele. Você é calado…? Mesmo? Ou ainda tá digerindo isso aqui??

– Queria lembrar direito de como eu cheguei… E queria falar com minha irmã.

– Só vai poder falar a partir do quinto dia, amigo… Enquanto isso, olhe em volta…

– Hã?

– Aí ó…

– Oxe , o quê?

– Seus irmãos. Todos nós...- AH! Meu nome e Cláudio!!

 

Antes de sair de uma vez, Cláudio se virou e disse rindo:

 

-- Glauco! 

-- Acho que se a gente passar por tudo isso cara... a gente sai daqui mais inteligente, mais sábio. A sabedoria é de quem sofre... Né não? -- Glauco sorriu... De verdade, sorriu...

 

Se levantou sem nada mais dizer, e sem olhar em volta. "vou ao banheiro" ... deu uns três passos ligeiros e de repente, parou. E seguiu novamente, a andar devagar... praticamente se arrastando, quase parando.

 

"Correr... Correr pra onde?!"

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 06/07/2022
Código do texto: T7553462
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