VERÃO
Neste Verão já não há boninas
Nem noites na varanda com grande vista
Noites mágicas com um vento maravilhoso e doce
Nem bebidas, gelo nem refrescos
Não há encanto
Nem sequer poesia…
Há alterações apenas
Do clima das condições do resto
Com pós e fenos e ar estragado
Alergias pandemias e surtos em ementas
O tempo da bonança e dos sentidos
Da sensual luxúria do desagravo
Tudo se esfumou e se desfez
Não resta nada
A não ser preços
Radares perscrutadores
Proibidas passagens ao luar
Nem praia nem vento nem céu nem paraíso
Apenas humanoides chinelos e indiferença
A caminhar zombies na cidade em areais
Egoísmo cegueira ou talvez apenas
Uma velha fome secular
Os sonhos mais belos feneceram
As intenções justas desmoronam
A temperatura sobe, desce e enlouquece
A cabeça anda à roda feita louca.
Ameaças, prazos, más notícias
Alarmes e terrores
O medo em chicotadas diárias e constantes.
O verão chegou
Está cá.
Mas parece longe, inexistente e falso.
Na minha memória
Não.
Na memória, o Verão ressuscita
Invade o espaço
E há fadas e duendes de novo
O amor regressa
A alegria vem.
Não sei se podemos fazer alguma coisa
Se não podemos suster a derrocada
Mas mais do nunca talvez o grito sirva
Para suster a espada.