VERÃO

Neste Verão já não há boninas

Nem noites na varanda com grande vista

Noites mágicas com um vento maravilhoso e doce

Nem bebidas, gelo nem refrescos

Não há encanto

Nem sequer poesia…

Há alterações apenas

Do clima das condições do resto

Com pós e fenos e ar estragado

Alergias pandemias e surtos em ementas

O tempo da bonança e dos sentidos

Da sensual luxúria do desagravo

Tudo se esfumou e se desfez

Não resta nada

A não ser preços

Radares perscrutadores

Proibidas passagens ao luar

Nem praia nem vento nem céu nem paraíso

Apenas humanoides chinelos e indiferença

A caminhar zombies na cidade em areais

Egoísmo cegueira ou talvez apenas

Uma velha fome secular

Os sonhos mais belos feneceram

As intenções justas desmoronam

A temperatura sobe, desce e enlouquece

A cabeça anda à roda feita louca.

Ameaças, prazos, más notícias

Alarmes e terrores

O medo em chicotadas diárias e constantes.

O verão chegou

Está cá.

Mas parece longe, inexistente e falso.

Na minha memória

Não.

Na memória, o Verão ressuscita

Invade o espaço

E há fadas e duendes de novo

O amor regressa

A alegria vem.

Não sei se podemos fazer alguma coisa

Se não podemos suster a derrocada

Mas mais do nunca talvez o grito sirva

Para suster a espada.

José Manuel Serradas
Enviado por José Manuel Serradas em 05/07/2022
Código do texto: T7553344
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