luz rósea
há de se ver a vida como uma luz fraca,
rósea, escondida num porta-retratos
atrás da labareda de uma fogueira.
há de se ver a vida como uma alma sã,
mesmo que frágil, contando as horas
de um amanhecer distante, manhã pálida…
há de se ver a vida como um instante,
por um instante, feito areia de ampulheta
contando o tempo, desgastando a hora.
há de se ver a vida como um milagre,
mesmo que longe, muito sereno, aquém
de si e do próprio mundo, dançante e calmo…
e ferve a vida — arde a vida — chama atenta;
contaram-se as horas? o tempo se inunda
de um calafrio perpétuo — verde violáceo
como manhã de inverno. fizeram dela réu?
prende-se na própria areia da ampulheta —
que ampulheta? o tempo se encontra, morre
em si, e renasce como pássaro — uma coruja?
é a sabedoria fazendo hora, medindo a hora.
agora é tempo de se balançar — feito chama
da fogueira escarlate — luz rósea, onde estás?
vida imensa — onde estás? — dentro de mim…
onde estás? ah, se te vejo! e me vejo, enfim.