NÃO CANTO A MINHA DOR NEM OS MINUTOS DE MINHA TRISTEZA

Vou aqui direto e sem reparos deitar esses ruídos de palavras que ainda não se encontraram, mas que não sossegam, dizendo-me que é hora de nascer. Sendo assim, irão sem forma reta ou lapidada, logo eu que me gasto tanto em burilos. Essa pressa toda em nascer pode causar tristeza em alguém e isso não é bom. Então vou embaralhá-las para roubar-lhes um pouco os sentidos.


NÃO CANTOS OS ANOS DE MINHA DOR NEM OS MINUTOS DE MINHA TRISTEZA

abro salões para esta dança endoidecida
durmo de solidão feito poeira fina
sereno no corrimão da escada
só para que alguém passe me leve um pouco nos dedos

Bocas de meninas são como prefeitos loucos por inaugurações

Na calha da casa alta e envelhecida um resto de chuva chuvisca
Do(l)ente mágoa se eriça no chão, apenas um estilhaço de água
Não me comovo nem um pouco, sou eu contando o tempo lágrima a lágrima.

Espreme o cata-piolho contra o fura-bolo
fecha o olho esquerdo, dizendo-me num gesto assim, só um minutinho já converso com você.
Não tanto, nem menos esse gesto precisaria ser assim tão pequeno.

Vira a face pedindo silêncio por uma garça espreiteira, mais silêncio do que faço?
Qual a graça dessa garça que vigia?
E agora, mais essa, de repente alguém resolve
soprar um segredo no ouvido do sol que trêmulo se arrepia, tão só não se empunha vai caindo de sua altura, mas nunca atinge nossas mãos.
Também não vou acender a lamparina.
Fico sem brilho nenhum devido a essa frouxura,
imagine se alguém guardasse a noite o sol na geladeira.
Já pensou o sol resfriado, espirrando, tossindo, sol com febre.
Bem feito sol, quem mandou ser frouxo.
Ora se vou dá pro sol minha última aspirina.
Toma só meu lenço cândido e enxuga o nariz vermelho sol abestalhado.
Me deixou sem palavras, sem discurso, sem a boca imaculada.
E aquela frase sem sentido continua...

Bocas de meninas são como prefeitos loucos por inaugurações

Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 24/11/2005
Reeditado em 24/11/2005
Código do texto: T75515