Drummond
Comi o passado
Assado com retrato mal passado
Também me embriago de passado
Passo mal
Às vezes mal sei quem sou
Às vezes, sinto-me recompensado
Passo tanto mal com essa ideia
De passado
Que muitas vezes me passo pra trás
Que passo bem
Também
Na solitude de um cigarro
Ouvindo músicas de antigamente
No presente que já passou
Imperfeito
Não me caibo no presente
Mais-que-perfeito
Conectado
Sempre
Ou fisgado
Nas redes
Do futuro
Pretérito
Passados preferidos
Que passam na mente
No momento do trabalho
Que faz lembrar
Que estamos vivos
Sentindo o que a máquina…
Não sente
Passados preteridos
Que pregam peças
Quando estamos distraídos
Passei por aquela mesma rua
Que é a mesma rua do passado
Com os galhos de alvenaria
Hoje
Porque no passado
Eram de árvores
Passeando
Pelas dores
Que nunca passam
Aa flores no quintal de casa
O pé de goiaba
Que era uma uva!
Dava que nem chuva!
Finada Doralice
Que andava
Que ria
Que adorava
E já tava na casa dos oitenta
Passado que me condena!
Papel amassado de ideias
Ou vivências
Que não coube no poema
Eu-passado
Ultrapassando
De vez em quando a dor
Atravessando
De quando em vez
Doenças
Problemas
Prazeres
Queria evacuar o passado
Carlos
Mas vivo com prisão de ventre...