Um fantasma assombrou-me 'inda criança.
Um fantasma assombrou-me 'inda criança.
— Que fazes, transparência humanoide?
Se me assombras, desejas certamente
ter o que doutro modo não se pode.
O fantasma responde anos mais tarde.
— Eu venho, criatura encarnecida,
fazer-te acreditar no Pensamento.
Crerás que nele esconde-se a Verdade,
e farás de tal crença teu tormento.
Assim eu fui crescendo junto a Deus.
— Ó pai, quando direis do que sou eu?
E o sangue em minhas veias se moveu.
Assim fui inventando o que Deus diz:
— Ó filho, tua linda identidade
esconde-se em ti mesmo e na Trindade.
Um fantasma assombrou-me 'inda criança,
pois cri ser um fantasma quando o olhei.
— Por que buscas a mim e minha mente?
— Tua mente fui eu que alimentei!
— Qual é tua verdade fantasmática?
— Que há Verdade fui eu quem inventei!
— Qual é o teu desejo insaciável?
— Saciedade é uma lenda que criei!
E quando Deus bondoso fui buscar,
tirando-lhe da face o véu sagrado,
querendo-lhe encarar os olhos grandes,
um jovem encontrei abandonado.
— Querida Eva! Doce Adão amigo!
aonde foram ambos, que fugiram
e nunca mais quiseram ter comigo?
Olhei para esse jovem assustado,
exigi dele um Deus sábio e potente
que pudesse do espírito malvado
livrar-me, com seu riso alvo e clemente.
— Fantasma! Por que Deus está silente!?
— Pequeno, esse Deus, sábio e potente,
dos livros e das línguas anciãs,
com cheiro de Verdade transparente,
fui eu quem o plantei nas tuas cãs!
01/07/2022