HOJE JÁ NÃO OUÇO FADOS

Hoje já não ouço fados,

como ouvia o m’nino

nos discos tocados

na radiola nova

que minha mãe comprara

Aquelas vozes portuguesas,

de vogais anasaladas

e de erres vibrados,

impregnavam os móveis da sala

de melancólicas sau-da-dis

As paredes nunca souberam

de quem minha mãe gostava

e mesmo que soubessem

não me diriam coisa alguma,

pois paredes não falam

Meu m’nino ficou ali,

nos tempos em que ouvia fados

e não entendia nada

Hoje,

eu e as paredes ficamos órfãos

e já não ouvimos fados

"Podes morrer, podes chorar

podes sorrir também

De quem eu gosto

nem às paredes confesso"

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 01/07/2022
Reeditado em 01/07/2022
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