HOJE JÁ NÃO OUÇO FADOS
Hoje já não ouço fados,
como ouvia o m’nino
nos discos tocados
na radiola nova
que minha mãe comprara
Aquelas vozes portuguesas,
de vogais anasaladas
e de erres vibrados,
impregnavam os móveis da sala
de melancólicas sau-da-dis
As paredes nunca souberam
de quem minha mãe gostava
e mesmo que soubessem
não me diriam coisa alguma,
pois paredes não falam
Meu m’nino ficou ali,
nos tempos em que ouvia fados
e não entendia nada
Hoje,
eu e as paredes ficamos órfãos
e já não ouvimos fados
"Podes morrer, podes chorar
podes sorrir também
De quem eu gosto
nem às paredes confesso"