Impressões
O que barra os olhos
é a própria visão
quando olham o mundo
não veem as imagens
mas sua impressão.
O que barra os ouvidos
é a própria audição
quando escutam o mundo
não ouvem seus sons
mas sua impressão.
O que barra as mãos
é o próprio tato
quando tocam o mundo
não sentem sua res
mas sua impressão.
O que barra o nariz
é o próprio olfato
quando cheira o mundo
não sente seu perfume
mas sua impressão.
O que barra a boca
é o próprio paladar
quando prova o mundo
não sente seu gosto
mas sua impressão.
E a mente, por ora, quieta
diante dessas impressões
se torna alerta.
E, por seu turno, a mente
recebe as impressões
e como lhe é peculiar
as interpreta,
não interpreta o mundo,
mas suas impressões.
Das impressões,
a mente cria do mundo
uma representação.
As imagens, os sons, a res,
o perfume e o sabor são
representações.
As impressões se tornam literatura,
romances, poemas, ensaios e artigos,
se tornam lendas, religiões e mitos,
se tornam educação e ciência,
se tornam leis, políticas e ideologias,
se tornam deus e deuses,
se tornam o próprio mundo.
Talvez a existência humana
só é possível por ser impressão
por ser fingimento.
Ou nada disso de verdade existe
e é só minha impressão.