Beijar a mão
Eu era muito criança,
Meu avô dava mão a beijar.
Já doente,
Na cadeira de balanço,
Em descanso,
Vovô Sílvio
Dava a bênção pro neto
E tossia, tossia, tossia,
Guardando na toalha
Resquícios da batalha
Dos pulmões já cansados.
Se eu me esquecia,
Tia Elzira me lembrava
Que vovô exigia
E se não se zangara
Era o amor que calara
A zanga do italiano enfermo.
Aprendi a pedir a bênção,
E, homem feito,
Inda pedia de vovó Negrinha
Tão pequena, tão morena,
Até ela ficar velhinha
E viajar para as alturas.
E lembro de vovó Rita,
Quando aflita padecia,
E dava a bênção e sorria
Esquecendo sua dor.
Certa feita, eu bem criança,
Tio Afonso, mais jovem,
Inda namorador,
Ensinou que o ritual
Ficava bem pros meus avós.
Daquele dia pra frente,
Fui cultivando outros jeitos,
Na informal reverência,
De contar pra papai e mamãe
Que eu lhes pedia a bênção,
Sem lhes dar beijo na mão.