O AMOR PEDE BIS
O que eu nunca fiz não existe...
Não passa de um conceito
Uma idéia que insiste,
Que ficou entalada no peito,
Não guardada... Estagnada...
Você imagina um beijo,
Um pecado cheiroso e marcado
E depois fica só no desejo.
Criança não extrapola o amor
E não brinca como louco
Apenas brinca e brinca, ama e ama,
Foge da alucinação e do estupor,
Porque todo amor é pouco.
O que nunca fiz não existe...
Porque choro o tempo que não perdi,
O carinho que inexiste,
Dos momentos que não senti?
Hoje o senhor anda cansado,
Não raramente carente,
Porque nada mudará o passado
E tudo sempre é urgente.
Na esquina da rua tinha um jardim...
Não roubaria uma flor em vão,
Eu já sentia o cheiro do jasmim,
E tudo existia em meu coração.
Via a aurora em mim nascendo,
Meus erros e acertos inerentes,
Tudo em quem vai crescendo,
Armando-se todas as correntes.
Quem não veria em si um louco,
A se jogar na batalha ferrenha
Da angústia, agonia e sufoco,
Em busca de tudo que se empenha?
Se o que eu nunca fiz me maltratava,
Era um masoquismo destemperado,
Uma dor que não via porque não olhava.
Quem daria vergonha ao envergonhado?
Como, o que eu nunca fiz pode me deixar marcas?
Eu arrumo meus armários e jogo o velho fora
Não deixo as coisas que me servem às traças
O amor não feito aliviou quando foi embora.
Porque era somente masturbação,
Energia desencontrada a se esvair.
Não existe deliciosa alucinação.
Não existe graça no que se vê fugir.
O amor que nunca fiz e talvez tenha feito,
Se fosse tormento e alimento dentro de mim,
Hoje seria fome, uma lança cravada em meu peito,
Como se fosse um mergulho no meu próprio fim.
Que seja segredo o amor que eu nunca fiz,
Pois jaz no degredo do medo e da vergonha.
O sonho de amor com mulher pura e meretriz,
Que não seja este o amor que meu amor sonha.
Walterbrios
13 de novembro de 2005