EM ALGUM PLANETA NO OUTRO LADO DO UNIVERSO
No topo do mundo
de sua varanda
alguém contempla
a cidade ao redor
e os outros prédios
Na frieza sossegada da madrugada
os brilhos amarelos e azulados
dos cômodos insones
auxiliam a inércia dos postes
a clarejar o escuro das ruas
e a afugentar novos vampiros
As janelas dos quartos acesos
dialogam caladas suas solidões
enquanto outros dormem submersos
na profundeza dos sonos sem sonhos
Os galos ainda não anunciam
o antecipar do dia
nem os cães ladrem
o breve desaparecer da lua e das estrelas
apenas o caminhão do lixo que passa
recolhendo desejos sobrantes das vidas humanas
[os lixões mais próximos
são cemitérios onde se sepultam
as intimidades e os segredos domésticos]
----- Em algum planeta
do outro lado do universo
alguém observa
o homem em sua varanda
a espiar a cidade e os outros prédios
solitário no topo do mundo