nunca aprontei-me aos meus desertos
perdi todas as pedras que colhi na areia da praia no dia que partiste
a roupa no varal levou sol e chuva
tanto tempo, tanto canto
de mim os farrapos
os decassílabos caídos sob a nota de rodapé
o café frio na xícara sem asa
ouvi da morte um grito
todas as venezianas têm olhos alheios
o surdo cantou Bach na noite de ninguém
por que a morte entra em mim todos os dias
eu trago um chinelo e uma estrela na véspera de anos da minha loucura
vou sair para colher mandioca e sentir a terra se rasgar de dor
eu matarei a terra antes de acabar o vernissage
a anterior velhice chora de costas para o mundo
ser antes de todas as coisas nascerem é benquerer às utopias alheias
bobagem se faz com risinhos em dias de céus