A CANETA PARKER
Saudade da caneta tinteiro
com que lambuzava os dedos de azul
um azul mais azulado
que o blue do céu de minha mãe
Minhas tardes
depois da escola
eram líquidas de letras
desenhadas em papéis
feito quem pinta quadros
encharcados de sonhos
No cambalhotar das mãos
a alquimia das tintas
pigmentava as paredes
com salpicos irrequietos de infância
Ah! a caneta azul de meu pai
com que manchava os dedos
com o azul tirado do céu
hoje distante de minha mãe
Se eu não tivesse sido menino
seria uma caneta tinteiro
a escrever desejos de menino