A CANETA PARKER

Saudade da caneta tinteiro

com que lambuzava os dedos de azul

um azul mais azulado

que o blue do céu de minha mãe

Minhas tardes

depois da escola

eram líquidas de letras

desenhadas em papéis

feito quem pinta quadros

encharcados de sonhos

No cambalhotar das mãos

a alquimia das tintas

pigmentava as paredes

com salpicos irrequietos de infância

Ah! a caneta azul de meu pai

com que manchava os dedos

com o azul tirado do céu

hoje distante de minha mãe

Se eu não tivesse sido menino

seria uma caneta tinteiro

a escrever desejos de menino

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/06/2022
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