CRIADA DA ROÇA II

Mariinha amanhã cedo

Assim que raiá o dia

Pega a lata e a rodilha,

Chama a filha de Zefa

Que já serve de companhia

Vai na caçimba dos Braulino

E trás água para beber.

O caminho é meio longo

Pois de ida e de volta

É para lá de légua e meia,

Não se empalhe nos arceiros

Trelando com algum moço

Pois tem que chegar a tempo

De catar lenha e fazer o almoço.

Depois de lavar os pratos

Vai na bodega de Ciço ou de Agda

Traga uma garrafa de gás,

Bolacha peteca farinha e rapadura

Abasteça todos os candeeiros

E deixa os pavios bem ensopados

Para iluminar até o terreiro.

Mais não vá se cansar muito

Pois no sábado vai ter forró

Lá no salão de Carmelita,

Domingo na casa de Zé de mó

É para brincar a noite toda

Que tu vai dançar comigo

Até as pernas darem um nó.

Mariinha não se cansa

E nem pode reclamar

É assim que se sente gente,

Foi Criada desde cedo

Levando nesta rotina

Não tem férias nem salário

Assim segue sua sina.

Sente-se como da família

Cresceu junto com os demais

Fazendo sempre tudo por todos,

Sem reconhecimento ou valor

Sonha em se casar um dia

Com alguém que lhe conceda

Daquela lida; uma carta de alforia.

Gilson Brasil
Enviado por Gilson Brasil em 22/06/2022
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