CRIADA DA ROÇA II
Mariinha amanhã cedo
Assim que raiá o dia
Pega a lata e a rodilha,
Chama a filha de Zefa
Que já serve de companhia
Vai na caçimba dos Braulino
E trás água para beber.
O caminho é meio longo
Pois de ida e de volta
É para lá de légua e meia,
Não se empalhe nos arceiros
Trelando com algum moço
Pois tem que chegar a tempo
De catar lenha e fazer o almoço.
Depois de lavar os pratos
Vai na bodega de Ciço ou de Agda
Traga uma garrafa de gás,
Bolacha peteca farinha e rapadura
Abasteça todos os candeeiros
E deixa os pavios bem ensopados
Para iluminar até o terreiro.
Mais não vá se cansar muito
Pois no sábado vai ter forró
Lá no salão de Carmelita,
Domingo na casa de Zé de mó
É para brincar a noite toda
Que tu vai dançar comigo
Até as pernas darem um nó.
Mariinha não se cansa
E nem pode reclamar
É assim que se sente gente,
Foi Criada desde cedo
Levando nesta rotina
Não tem férias nem salário
Assim segue sua sina.
Sente-se como da família
Cresceu junto com os demais
Fazendo sempre tudo por todos,
Sem reconhecimento ou valor
Sonha em se casar um dia
Com alguém que lhe conceda
Daquela lida; uma carta de alforia.