Mortos
nos cemitérios abandonados
os mortos vestem os séculos
o mato alto cobre a sepultura
não há velas acesas
muitos mortos anônimos em sepulturas sem cruzes
é o esquecimento de tudo o que um dia foi
não temos mais saudades
vivemos como se fôssemos máquinas enferrujadas
nossos corações não se alegram mais com quem volta depois de anos
desconhecemos os nossos próprios sentimentos
os mortos gritam suas ausências
mas estamos surdos para eles
o retrato velho foi jogado no lixo
o sapato usado uma única vez foi doado para alguém qualquer
não visitamos cemitérios mais
nem no dia dos mortos
os ossos esquecidos lá longe choram o passar das horas que matam o pouco do que ficou no rastro do chão