ENTRE O EU E A COISA

Vivo para o aqui,

o agora e o nada.

Vivo sem saber

o que é viver,

escravizado a um querer

desnorteado e cego.

Vivo apenas por ter nascido.

Por ter sobrevivido,

apesar de tudo.

Só por isso,

sigo lúcido e perplexo,

Enterrado em memórias,

silêncios e anonimatos,

que dizem a mim mesmo

que eu existo.

Vivo, como todo mundo,

esperando morrer

e ver tudo desaparecer

na eternidade de um segundo.

Vivo enquanto o corpo resiste,

sobrevive e nega

sua condição natural de coisa.

Mas, no fundo,

há apenas coisas

dentro de coisas,

formando o mundo.

O corpo é só uma coisa,

estranha e perecível

que por algum tempo vive

na imaginação de um eu

que não existe.