poema disforme
quando se desencrava a palavra...
se alonga a tarde
se alargam as luas
um desancorar de ancas,
um adensar de poros
um roçar de patas
um refolhar de asas...
agônica nas inconsoláveis noites
ganindo silêncios
remoendo o nada
rebento na carne uns cardos
um corte de ilhas
diante dos olhos, imigrantes pássaros
meus pés me caminham até a morte
para o teu horizonte de íris
e sem alcançar o abraço, o beijo
o fremir do corpo, do gozo do ser
na tua compleição,
disforme peso de barro,
compacta composição que me escapa,
nessas horas plenas de distâncias
há um espremer até ao esgar da manhã
o que dizer? senão silêncios e alguma lágrima?