POEMA EM PRETO E BRANCO
Tantantan tanran, tantantan tanran,
tantantan tanran, tantantan tanran,
tan tan tan tan tan
assim em minhas noites infantis
começava o Repórter Esso
(devido ao sereno noturno
minha mãe sempre me mandava
entrar cedo em casa)
Na televisão o Vietnã ardia em preto e branco
mas podia ver o cheiro avermelhado do sangue
naquele cinza escuro borrado da tela
Na televisão helicópteros voavam
enquanto crianças choravam nuas
por entre soldados armados
com capacetes e metralhadoras
e velhos gritavam em línguas que não conhecia
(no rádio um garoto como eu
amava os Beatles e os Rolling Stones)
Não sabia quem eram os vietcongs
e o Vietnã era mais distante
que o bairro onde morava minha outra tia
(da vitrola alguém cantava
Help and Ticket to Ride)
Na rua,
minha meninice era toda colorida
No outro lado,
a realidade era toda em preto e branco
(ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá
tátá-tá-tá-tá)