POEMA EM PRETO E BRANCO

Tantantan tanran, tantantan tanran,

tantantan tanran, tantantan tanran,

tan tan tan tan tan

assim em minhas noites infantis

começava o Repórter Esso

(devido ao sereno noturno

minha mãe sempre me mandava

entrar cedo em casa)

Na televisão o Vietnã ardia em preto e branco

mas podia ver o cheiro avermelhado do sangue

naquele cinza escuro borrado da tela

Na televisão helicópteros voavam

enquanto crianças choravam nuas

por entre soldados armados

com capacetes e metralhadoras

e velhos gritavam em línguas que não conhecia

(no rádio um garoto como eu

amava os Beatles e os Rolling Stones)

Não sabia quem eram os vietcongs

e o Vietnã era mais distante

que o bairro onde morava minha outra tia

(da vitrola alguém cantava

Help and Ticket to Ride)

Na rua,

minha meninice era toda colorida

No outro lado,

a realidade era toda em preto e branco

(ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá

tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá

tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá

tátá-tá-tá-tá)

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 19/06/2022
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