#lucindanelremar A SAUDADE É UM PÁSSARO

Os pedaços de papéis jogados no chão

amassados, mostram o tanto que ela tenta tirar de dentro de si e passar para o papel

Tantas palavras gastas

tantos verbos empregados, e as emoções represadas,

não, ela não consegue, nada do que ela até então escreveu não conseguiu tirar de si aquele peso, aquela "coisa" que parece oprimir seu peito.

Falta alguma coisa, ela não sabe definir.

Por que as palavras sufocadas, aqueles sentimentos que não tem definição, não a deixam pensar com clareza

Tudo está confuso, o vento parece que passa por ela, sua respiração é pela metade, o ar não entra...

Uma amargura triste que a acompanha há dias...

E ela teima, teima outra vez, mais outras e tantas vezes, extirpar dela aquele manancial de sensações

Mas as palavras lhe faltam

E o tempo passa, passa...

Mais e mais papéis se amontoam naquele chão...

Ela se levanta e acolhe todos os papéis nos braços, desamasse-os , ler e reler cada um

Seu pensamento começa a clarear... Começa a copiar tudo novamente e como uma exímia costureira, consegue emendar, juntar, remendar as palavras, todas, todas juntas, mudando de lugar algumas, pontuando, desfigurando os sentidos de outras. Como uma cirurgiã exímia, usando a borracha, retira palavras que não estão ali de maneira a ajudar a clarear o sentido do que lhe vai em sua alma, pelo contrário, mascara, encobre a verdade do seu "eu".

Finalmente termina seu trabalho de "costureira" das palavras, lê todo o texto que acaba de produzir... Uma colcha de retalhos, de cores em forma de sentimentos, emoções, se apresentam diante de seus olhos. E ela finalmente vê que ali, naquele último papel escrito, desvenda os mistérios guardados, em seu peito. Finalmente ela sabe o que na realidade lhe afligia, oprimia seu peito.

Satisfeita, ela sorri e sente como se de repente seu peito se abrisse e de dentro dele saísse uma ave chamada saudade de um amor do passado que ela nunca mais teve notícias, nunca mais viu.

Ah ave bela vai, vai em busca dele, depois volta e me diz como está aquele que um dia me conquistou mas foi embora, nunca mais deu notícias, nunca mais voltou...

(18/06/2017)

Raimunda Lucinda Martins / Raio de Luz