Dor
Abençoo minha solidão
Selvagem, querida e bem vinda
Bela, estocada e vívida
Nada importo o que pensem
Pois é da canção da vida
Compositora a morte
Um evangelho escrito
Uma personificante divinal ação
Apreendo do eu, esse meu
Instinto dos céus
Dá-me vida, paz e o próprio anoitecer
Enquanto aqui vivo esperançar
Outras vezes quis a morte
Noutros tempos ela veio
Com olhos verdadeiros
Como que dizendo - à ti me esmero!
Agora é divina e celestial
A composição
Que Deus mandou
Que cantassem as flores
Mas se os montes clamassem
Eu entenderia
Que a vida se refaz
No instante em que eu mesma grito
Um som abafado
A voz não me sai
Minha dor é subestimada
Meus órgãos e sentidos me traem
Certifico que parto
Confusa ainda não decido
Se meu eu é térreo ao subsolo
Ou crescentemente alado
E eu envolta
Nas próprias garras
Das águias que alimentei
Terá de ser um belo fim
Ou no mundo,
Sustento sem voz agora
Só com as mãos em mímica
A dizer-te em gestos não amigáveis
Que preciso tanto desde céu que me pintaram!