O OUTRO LADO DA ALMA
Vai relógio
me conta das horas não contadas
do tempo não degolado
pelas lâminas afiadas dos ponteiros
O que sabes
dos minutos exilados
das agendas e dos calendários
e dos dias não gravados
em tua memória nutrida
pela fome gulosa dos números?
Diz-me o que cochicham
os instantes não flagrados
dos segundos deslembrados
e de tudo mais aquilo
que em mim e em ti passaram
na invisibilidade gasosa dos intervalos
Vai relógio me fala
sobre o que em mim não se mede
e se esconde dos olhos e dos retratos
mas que me é agora passado disfarçado
que se confessa no pulsar latente
revelado no linguajar mudo dos dedos
Vai relógio desvela
o que se encontra escondido
no fundo do meu bolso esquerdo