AUTOPIEDADE

Sente muito, diz, feito rio

Interrompido em seus sentires fundos

Deselegantes ais que chegam, passam

No escarcéu da brisa mais tímida,

Diz, que de infeliz já definha

Na secura dos dias.

Propõe silêncios desonestos

Na contumácia das manhãs perdidas,

Vazio dos discursos desse instante...

Há mais verdade nos pardais

Que não aprenderam seu nome

E são mais persuasivos.

Estátua da que olhou pra trás,

Seu pesadelo é câmara de gás

Do inúmero futuro delirante

Mal disfarçado feito crime,

Paixão que jamais é sutil

Sangrando e bem faminta.

Não diz, com Plath, que toda fêmea

Ama um fascista, habita uma recusa

Erguida sob medida para o medo.

O enigma da paisagem medra

Em si e por si, alheio ao belo,

Sombra imolada e antiga.

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 15/06/2022
Código do texto: T7538200
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