AUTOPIEDADE
Sente muito, diz, feito rio
Interrompido em seus sentires fundos
Deselegantes ais que chegam, passam
No escarcéu da brisa mais tímida,
Diz, que de infeliz já definha
Na secura dos dias.
Propõe silêncios desonestos
Na contumácia das manhãs perdidas,
Vazio dos discursos desse instante...
Há mais verdade nos pardais
Que não aprenderam seu nome
E são mais persuasivos.
Estátua da que olhou pra trás,
Seu pesadelo é câmara de gás
Do inúmero futuro delirante
Mal disfarçado feito crime,
Paixão que jamais é sutil
Sangrando e bem faminta.
Não diz, com Plath, que toda fêmea
Ama um fascista, habita uma recusa
Erguida sob medida para o medo.
O enigma da paisagem medra
Em si e por si, alheio ao belo,
Sombra imolada e antiga.
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